Educação, Cultura e Esportes

 

Publicado em: 16/02/2011 15:00 | Autor: Departamento de Comunicação / Alfredo Jorge / Rômulo Madureira

Aula inaugural do Instituto Federal leva 150 ao Cine Iguaçu


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Realizada na última segunda-feira, 14 de fevereiro, a aula inaugural do Instituto Federal (IF) do Paraná reuniu cerca de 150 pessoas, entre autoridades, professores, alunos e pais de alunos. A novidade apresentada pelo IF neste ano foi a da criação do Ensino Médio Integrado, cujas aulas já começaram. Com quatro anos de duração, esta modalidade de ensino forma o jovem no Ensino Médio e ao mesmo tempo o habilita tecnicamente, preparando-o melhor tanto para o mercado de trabalho quanto para a entrada na faculdade. Assim como no ano passado, o IF continua oferecendo os cursos técnicos subseqüentes de Alimentos, Eletromecânica e Informática. Para estes, o ano letivo começa em 14 de março.
A prefeita Tina Toneti deu as boas vindas aos novos alunos, ressaltando que o IF não é apenas de Jacarezinho e que está à disposição de todo o Norte Pioneiro. “O Instituto é mais um passo para o desenvolvimento de nossa região. O Brasil, em muitos momentos fez as coisas pela metade. Proclamamos a abolição sem dar um pedaço de terra para os escravos. Depois, em diversos outros momentos, fomos condenados a viver em desigualdade. Com a primeira eleição do governo Lula e agora com a presidente Dilma, esta perspectiva vem mudando e iniciamos o rompimento deste ciclo. O IF significa educação de qualidade para nossa região e mais probabilidade de ter uma vida melhor para nossos filhos”, discursou. Depois de contextualizar historicamente o Brasil “que fazia as coisas pela metade” e lembrar que nossa cidade já foi chamada de “ramal da fome”, Tina desejou que os alunos tenham garra para concluir seus cursos para poderem almejar novos vôos e um crescimento na carreira. A prefeita ainda citou um poema de Gilberto Freyre que, em 1926, pensava em um Brasil mais igualitário. “Depois de ler a poesia, fiquei me questionando: por que este rompimento só tanto tempo depois? A resposta me veio na hora. Porque em todos estes anos, os governantes se esqueceram de investir na Educação, um ponto primordial do nosso governo. O IF não preza apenas pela formação acadêmica do jovem, mas também se faz decisivo na formação ética e moral do cidadão”, concluiu.
O diretor geral do IF Jacarezinho, Gustavo Vilani Serra, também trouxe as escolas profissionalizantes do país em uma perspectiva histórica. “A diferença é que as primeiras escolas se preocupavam apenas em tornar alunos operários das fábricas. Em todo o século XX, a lógica foi a mesma, formar mão de obra para as indústrias, em um viés eminentemente assistencialista. O Instituto Federal não possui tal visão. Além de formar profissionais capacitados em suas áreas, formamos cidadãos críticos, pensadores e capazes de avaliar onde estão inseridos”, introduziu.
A aula inaugural começou com um discurso do ex-reitor do Instituto e agora Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, Alípio Santos Leal Neto, transmitido via teleconferência para os campi do IF. Alípio falou sobre o Estado Democrático de Direito e abordou a possibilidade que o Instituto proporciona de atender igualmente a todos. Citando Tancredo Neves, lembrou que “enquanto um brasileiro estiver desabrigado, todos estaremos desabrigados”. Empolgado, o ex-reitor finalizou seu discurso propondo “trabalhar e construir o conhecimento, a ciência. Que este ano seja um marco na comunidade interna do IF e que todos possamos nos unir nos interesses coletivos, sejamos portanto, muito mais pelo exemplo do que pela palavra”.

Afirmação e crescimento
De acordo com o diretor de Ensino do campus de Jacarezinho, Gabriel Mathias Carneiro Leão, este semestre que se inicia é de afirmação. “Quando começamos, no ano passado, ainda faltavam alguns ajustes, mas todas as dificuldades foram sanadas e a tendência agora é de crescimento dobrado”, disse. Ele explica que a meta do Instituto é capacitar os alunos que tem mais dificuldades. “Pegamos turmas bem heterogêneas, que mesclam alunos com o Ensino Médio fresco e outros que o terminaram há muito tempo. O desafio é conseguir atender a esta demanda e priorizar a capacitação de todos igualmente”, comenta.
O IF reúne em suas salas de aula tanto alunos de Jacarezinho como Luiz Fernando da Silva, de 23 anos, quanto de cidades da região como Amanda Peixoto, de 20 anos, que morava em Carlópolis e depois do início do curso, resolveu morar aqui e arrumar um emprego na cidade. Há ainda casos como o do promotor de vendas Sidnei Donizeti Rodrigues Junior, de 20 anos, que continua trabalhando o dia todo em Ourinhos e pega o ônibus para estudar à noite no Instituto. Mãe do aluno Luiz Matheus Périco, de 14 anos, Rose Stati avalia como positiva a iniciativa do filho, de fazer o Ensino Médio Integrado. “Ele sairá com 18 anos com mais oportunidades de trabalho e de crescer na vida”, disse.
Motorista de uma das vans que realiza o transporte dos alunos de Santo Antonio da Platina, João Paulo da Silva conta que morava em Cornélio Procópio e que pôde presenciar o desenvolvimento trazido com a unidade do CEFET. “As escolas técnicas são um fator essencial no enriquecimento de uma cidade. A Prefeitura está de parabéns pelo compromisso com a cidadania e com a juventude, ao conseguir trazer para Jacarezinho a unidade do IF”, comenta.
Depois da cerimônia, os pais de alunos tiveram as dúvidas sanadas por um representante da empresa que fará os transportes. Os alunos que moram nos bairros Vila Setti, Dom Pedro Filipack e Aeroporto pegarão um ônibus para a Rodoviária Nova, onde um outro ônibus os levará gratuitamente até o campus do IF. “Para ir até a Rodoviária, os alunos deverão usar o passe normal (de cor cinza). Estando lá, usarão o passe integração (de cor verde e gratuito), portanto será efetuado o pagamento de apenas uma passagem”, disse. Para fazer o passe escolar e ganhar 50% de desconto nos passes, os estudantes deverão levar um documento com foto, duas fotos 3x4 e um comprovante de residência no dia do início das aulas.

Confira o poema a que a prefeita se referiu, escrito por Gilberto Freyre em 1926 e publicado no livro "Poesia Reunida", Editora Pirata - Recife, 1980.

O outro Brasil que vem aí

Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.