Educação, Cultura e Esportes

 

Publicado em: 30/03/2013 11:23 | Autor: Eli Araújo – Jornal Folha de Londrina

Jacarezinho: polo regional de cultura


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É muito comum hoje em dia medir o potencial de um estado ou município por alguns números, que são os indicadores econômicos ou sociais. A partir deste princípio, a cidade de Jacarezinho não estaria entre as principais do estado porque a concentração de renda, a exemplos de outros municípios da região, é alta e a cidade ainda busca alternativas de desenvolvimento. Mas quando o assunto é cultura, a conversa muda de rumo.

A cidade tem uma grande diversidade cultural, que começou, sem pretensões, com a chegada dos primeiros imigrantes ao povoado que recebeu o nome de Nova Alcântara, em homenagem a uma família pioneira. Isto foi bem antes da emancipação política, que aconteceu no dia 2 de abril de 1900, portanto, há 113 anos.
Deixando de lado os indicadores, pode se afirmar que a cidade possui uma riqueza cultural quase "invisível" ou que está tão próxima que pode ser difícil de ser percebida. O diretor de Cultura da prefeitura, Jucelino Biagini, trabalha nesta área há mais de 20 anos e faz um retrospecto da cultura na cidade.

Ele começa com as artes plásticas. A cidade realiza um salão de arte contemporânea há mais de 40 anos. O evento teve início com o artista Quincaju, que começou a trabalhar com arte depois de 50 anos de idade. Ele fez mais de quatro mil obras, todas catalogadas e espalhadas em todos os continentes. A cidade preserva um pequeno acervo do artista que nasceu em Paranapanema, no interior de São Paulo, mas se tornou cidadão honorário (e de coração) de Jacarezinho.
Na área de música, a cidade organiza o Festival de Música de Jacarezinho (Fejacan) desde a década de 80. No início, o festival tinha caráter competitivo. Hoje, é realizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) e perdeu esta característica. Ainda nessa área, a cidade tem alguns artistas renomados, entre eles o violinista João Romano, considerado um dos cinco melhores do país.

Na década de 70, o ator Geraldo Silva e outros atores criaram o Conjunto Amadores de Teatro (Cat) que existe até hoje e já relevou vários grupos, alguns com longa existência. Ainda na área de teatro, a cidade promove nos últimos anos o EnCena, um evento que reúne durante uma semana os espetáculos premiados em âmbito nacional. Agora, a prefeitura quer expandir o EnCena, levando espetáculos de rua para a periferia.

Catedral
A arte sacra é uma história à parte. O artista Eugênio de Proença Sigaud, que não era católico, foi convidado por seu irmão, d. Geraldo Sigaud, bispo de Jacarezinho na época, para fazer a pintura da Catedral, há cerca de meio século. A obra, de uma beleza incomparável, tem elementos cabalísticos, portanto, profanos, identificando personagens do dia a dia, o que desperta a atenção dos visitantes.

Jacarezinho realiza todo ano um dos bailes mais famosos do Brasil, o Baile do Texas, criado há mais de 50 anos por um grupo de universitários que estudavam em São Paulo ou Curitiba e voltavam para a cidade para passar as férias. Como os bailes da época exigiam trajes de gala, os jovens queriam fazer algo diferente, mostrando as roupas usadas no dia a dia pelos moradores da roça, em especial as mulheres. A promoção foi crescendo a cada ano e hoje reúne entre seis a oito mil participantes.

O diretor de Cultura lembra ainda que a cidade realiza um carnaval de rua "democrático" em uma via central, onde as escolas desfilam no meio do povo em um espaço sem arquibancadas ou isolamento.

Tristeza
O diretor de Cultura considera que Jacarezinho é um polo cultural que serve de referência para as outras cidades da região. Ele só lamenta que a cultura popular vem perdendo espaço para as "culturas exóticas", importadas com a globalização.
Entre as culturas populares que perderam espaço, ele cita as encenações da Paixão de Cristo, as apresentações das folias de Reis e as lendas de Saci Pererê. "Mesmo que se trate de um panorama nacional, é triste a gente constatar que a cultura popular vem perdendo seu espaço", afirma o diretor.