A tarifa de energia elétrica cobrada do consumidor em 2010 deverá ficar mais barata. A afirmação foi feita nesta quinta-feira (10) pelo diretor geral de Itaipu, Jorge Miguel Samek, um dos expositores da audiência pública realizada em conjunto pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE) para discutir a repentina interrupção no fornecimento de energia elétrica ocorrida no país no dia 10 de novembro, atingindo 17 estados brasileiros e o Distrito Federal.
O preço mais baixo da conta a ser paga, segundo o diretor de Itaipu, deve-se a dois fatores: o primeiro é o fato de que a energia no Brasil está ficando cada vez mais barata, já que Itaipu, a maior geradora do mundo, está operando com folga e ainda fazendo novos investimentos. Também deverá contribuir para a redução da conta a valorização do real frente ao dólar, que já está ocorrendo este ano, mas segundo Jorge Miguel, deverá repercutir nas contas a partir de 2010.
- Estamos trabalhando com muita folga. Está sobrando energia no Brasil -acentuou Jorge Samek.
Em sua exposição, o diretor geral de Itaipu afirmou que o sistema elétrico brasileiro, por ser todo interligado, dota o Brasil de uma condição \"extraordinária\", que permite que 95% da energia gerada por Itaipu, que recebe águas de 44 usinas, seja limpa e barata. Ressaltou, portanto, que o Brasil, por ser o país que mais recebe descarga elétrica em todo mundo, não está imune a blecautes como o ocorrido em novembro.
Garantiu, assim, que mesmo com a situação favorável do país em relação ao sistema elétrico, \"as descargas elétricas podem sim interferir no processo de produção de energia\", apesar de ter descartado qualquer tipo de falha no sistema elétrico do país.
- Querer criminalizar o sistema elétrico nacional é um desrespeito com o Brasil. Somos vanguarda do processo em todo o mundo. Houve problemas e poderá haver novos, pois nos próximos cinco anos haverá chuvas acima da média devido ao aquecimento dos oceanos - enfatizou o presidente de Itaipu.
O engenheiro elétrico e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Evandro Emílio Souza Lima, disse que é cedo para determinar as verdadeiras causas do blecaute ocorrido no mês passado, pois se trata de um problema \"muito complicado\". Como exemplo, citou o blecaute ocorrido em Nova York em 1965, cuja causa até hoje tem várias explicações.
- Não temos essa noção de um todo, pois nosso sistema está politizado e é natural, nesse caso, que um partido, ao defender sua administração como a melhor, mostre só as vantagens, sem dar a noção de um todo - explicou o engenheiro elétrico.
Já o presidente da Empresa de Planejamento em Energia (EPE), Maurício Tiomno Tolmasquim, concentrou sua exposição na explicação de que o apagão elétrico ocorrido em novembro último e o blecaute de energia que aconteceu nos anos de 2001 e 2002 nada têm em comum. Naquele ano, quando foi decretado um racionamento de energia que durou nove meses, o problema, segundo afirmou, foi devido a dois fatores: falta de energia suficiente para atender a demanda do país e falta de investimentos na construção de usinas e linhas de transmissão de energia.
- Querer comparar o que aconteceu naquele ano, pela falta de investimentos, com o acidente recente é querer confundir a opinião pública. Naquela época, não tínhamos energia suficiente. Hoje, estamos vertendo água. Nunca tivemos reservatórios tão cheios - garantiu o presidente da EPE.
Ele explicou ainda que, atualmente, o sistema elétrico brasileiro, tanto na parte de geração quanto em transmissão, deve ser motivo de orgulho para todo brasileiro, pois é um sistema \"extremamente robusto, gerenciado por instituições que usam a melhor técnica e, por isso, é visitado por especialistas de todo o mundo\".
- Mas não existe imunidade a acidentes - ressaltou Maurício.
TCU
O presidente da CI, senador Fernando Collor (PTB-AL), lamentou a ausência do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Ubiratan Aguiar, nos debates desta quinta. O magistrado havia sido convidado a explicar entrevistas que teria dado logo após o apagão de 10 de novembro, afirmando que o tribunal havia elaborado um relatório em que apontava várias falhas no sistema elétrico brasileiro.
- Farei um novo convite ao ministro para que compareça à próxima reunião da comissão (no dia 17 deste mês) e debata conosco o relatório para que possamos fazer um juízo de valor do que de fato aconteceu - afirmou Collor, ao ler o ofício do ministro justificando a ausência devido a compromissos assumidos pela presidência do tribunal.